Montanhas imponentes, curiosas, das mais belas do Brasil. Joias raríssimas, encravadas no coração da
Bahia. É neste cenário que começa nossa viagem pela Bacia do Rio Paraguaçu.
Estamos na Chapada Diamantina, terra dos rochedos gigantes e de águas cristalinas. O maior rio totalmente baiano tem 614 quilômetros de extensão. Nasce na Chapada Diamantina e deságua perto de Salvador, na Baía de Todos os Santos. Sua missão é dar ao homem a riqueza de suas águas.
Para ver onde o Paraguaçu começa, viajamos até o município de Barra da Estiva. Nosso destino é o Morro do Ouro, uma área conhecida como “Cocal”. É onde fica a nascente, o trecho oculto do Rio Paraguaçu.
É difícil imaginar que o Paraguaçu brota ao lado de um pasto abandonado. Na nascente, o Paraguaçu quase cabe na palma da mão. É interessante saber que essas águas, que começam tão tímidas, cruzam três regiões importantes da Bahia, matam a sede, a fome, distribuem riqueza, abastecem mais de 2,5 milhões de baianos.
Mais adiante, o Paraguaçu já ganha porte de um riacho, correndo ao lado ao lado da área abandonada.
Admo da Conceição é um pequeno empresário, uma espécie de protetor do primeiro trecho do Paraguaçu. Comprou a velha fazenda de café só para preservar a nascente. “Eu arranquei o café e deixei, abandonei. Fiz isso porque eu gosto da natureza, eu gosto da água, ninguém tem o direito de destruir uma nascente que uma vez morta nunca mais vai existir”.
O rio mal começa e vai logo distribuindo suas águas. A Barragem do Apertado, uma represa de 25 quilômetros de extensão, abastece o perímetro irrigado da região. O curioso é que esse volume vem de um Paraguaçu ainda menino.
O carro-chefe do agronegócio é a batata. Só uma fazenda tem dois mil hectares irrigados e produz 90 mil toneladas por ano. Grande parte do abastecimento de batata do Nordeste sai de lá.
A produção é responsável por 700 empregos diretos. O povo da região que as águas do Rio Paraguaçu produzem milagre porque não dava para imaginar que o semiárido nordestino fosse, um dia, produzir maçã.
A maçã é uma fruta de clima temperado, que precisa de frio em grande parte do ano. Por isso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os grandes produtores nacionais.
Mucugê no calor do Nordeste parecia impossível. O holandês Theodorus Daamen já tinha feito experiências em outras regiões nordestinas, mas não deram certo. Quando descobriu a Chapada Diamantina e as águas do Paraguaçu, tudo mudou. “Essa variedade, a eva, já pode florescer com 150 horas de frio, em temperatura abaixo de 7°C, acumulada durante o inverno”.
Conhecer o Paraguaçu é fazer um passeio pela história do Brasil colonial. Quem visita Mucugê logo tem essa sensação. Município bucólico, oito mil habitantes e um ar de nobreza.
O Paraguaçu passa ao lado, mas corre escondido entre as montanhas do Sincorá. Para atravessar as montanhas do Sincorá, o Paraguaçu faz um percurso de 60 quilômetros. É o trecho mais acidentado do rio, o mais difícil de conhecer, mas onde se tem uma boa noção da força das águas. Foram milhões de anos furando os rochedos, abrindo caminho em direção ao mar.
O maior obstáculo para conhecer a região a pé são as pedras que rolam do topo da serra. Muitas desviaram o curso das águas e dificultam a caminhada. Pedrinhas menores, os seixos, estão por toda parte. Esse trecho do leito do Paraguaçu já enriqueceu muita gente nos bons tempos do diamante.
O Paraguaçu segue o seu rumo. Mais adiante, no município de Nova Redenção, ele passa perto de oito assentamentos. Em um deles, há 24 anos, cada família recebeu do
Governo Federal um lote de 30 hectares. Alguns assentados já foram embora. Segundo Rosalvo Oliveira, presidente da Associação Comunitária, os que ficaram esperam até hoje o que o Incra prometeu.
“Várias vezes tivemos reuniões para vir irrigação aqui para dentro, para a gente trabalhar, só que não veio. O rio está perto, mas cadê, como é que você puxa água de lá sem condições?”, reclama Rosalvo.
Em outro lote, no mesmo assentamento, a colheita do tomate nunca falha. O lote foi arrendado por um empresário que bancou o projeto de irrigação. O assentado, de dono do lote, virou empregado. A situação só não é pior porque as famílias dos assentados ganham um dinheirinho com o turismo. A fonte de renda alternativa é uma atração deslumbrante.
Um afluente misterioso do Paraguaçu fica a 100 metros da superfície da terra, um riacho subterrâneo. A água impressiona, de tão cristalina. Uma cor azul vem do sol refletido nas paredes de calcário. O banho e a visitação são permitidos pelo
Ibama. G1.COM